quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A Ilha: "versão 2011"

PRIMEIRA PARTE

A partir do conhecimento teórico com 2 aulas sobre o "Sistema de Saúde Pública Cubano" e "Atenção Primária à Saúde e Medicina Familiar Cubana" e a vivência com a visita a 1 Policlínica, 2 Consultórios Médicos de Família, conhecendo lideranças comunitárias de 1 Conselho Popular da cidade de Boyeros(Havana), entrevistando uma deputada da Assembléia Nacional do Poder Popular e conversando com vários pacientes e outros cidadãos de Havana, resolvemos traçar um panorama do que está acontecendo atualmente na saúde de Cuba.

Muito encantados com o célebre livro de Fernando de Morais - "A Ilha"(1976) - que faz um retrato bastante apaixonado do que se passava em Cuba nos primeiros períodos pós-revolucionários, resolvo seguir uma linha também jornalística e atualizá-lo, trazendo como está o cenário da saúde cubana em 2011, 35 anos ocorridos após o seu conhecido relato. Para isto, é necessário contextualizar as trasformações ocorridas neste país nos últimos 50 anos.

1)Reforma Sanitária: A Reforma Sanitária Cubana começou nos anos 60, logo após o triunfo do movimento revolucionário do qual faziam parte Che Guevara e Fidel Castro, e conseguiu, através de um severo planejamento, formação massiva de recursos humanos e intensa participação popular, inverter completamente o perfil epidemiológico do país. A partir da década de 70 iniciou-se a abertura das Policlínicas e a centralização e supervisão do trabalho dos médicos de família de um distrito por esses serviços. Já em 1984, portando um excelente número de médicos à disposição no país(semelhante a países desenvolvidos), ocorre a capacitação em massa dos médicos através da especialização em Medicina General y Integral(MGI) - correspondente ao brasileiro Médico de Família e Comunidade(MFC).

2)Mudanças históricas: a partir de 1989-1990 acontece a decadência do bloco soviético e, com ele, o financiamento externo da economia cubana. O período entre 1990-1994 fica conhecido como a "Grande Crise", que provoca racionamento completo de bens básicos(como comida, roupas, gasolina, energia elétrica) e serviços, incluindo a saúde. A partir dessa época, tiveram que fazer uma remodelagem do programa de Medicina Familiar, ampliando o número de famílias acompanhadas por cada Médico de Família - um único médico que dava conta de uma população de 800 pessoas, agora tinha que dar conta de mais de 1300. No entanto, as novas interlocuções de Cuba com o mercado internacional, a busca de novos parceiros e as divisas geradas com as missões médicas cubanas internacionais impulsionaram a economia do país e levou-o no período de 1994-2002 ao chamado "Crescimento Cubano" no qual a medicina de família reassume a prioridade dos investimentos públicos.

Nesta época os médicos de família cubanos passam a ser conhecidos mundialmente e o país assume a presidência da comissão de Atenção Primária da Organização Panamericana da Saúde(OPAS) vinculada à ONU. Diversos congressos internacionais da especialidade são promovidos em Havana e as missões internacionais começam a formar novos médicos em vários países, estimulando as ações de consultoria cubana em outros sistemas de saúde.

Entre 2002-2010 ,Cuba entra na fase chamada "Projeto Revolução", na qual o país passa por uma revolução energética com o fornecimento venezuelano de Petróleo, a criação da ALBA(Alternativa Bolivariana das Américas) e a aproximação com a zona do Euro, reduzindo um pouco o impacto do bloqueio americano ao país. Neste cenário, tem acontecido uma equipação gigantesca dos consultórios e das policlínicas, com aquisição de muitos aparelhos de Ultrassom, Raio-X, de análises de laboratório(sangue, urina, etc.) e novas medicações, além de ampliar o fornecimento de especialização em MGI a quase todos os médicos do país. Com isso os indicadores de saúde cresceram em função geométrica(centenas de vezes em 8 anos!) erradicando muitas doenças e baixando a quase zero a mortalidade infantil. No entanto, em 2011, com a crise econômica global - em especial a decadência da economia européia e a quase dissolução do Euro - obrigou Cuba a apertar um pouco sua economia e reajustar sua saúde, reduzindo o número de novos consultórios e diminuindo os investimentos para conserto de suas unidades de saúde danificadas.

Um comentário:

  1. Que texto interessante e agradável de se ler!!! Sou estudante de Nutrição, incubida da missão de fazer um levantamento do sistema de saúde em Cuba, quando me deparei comn estas palavras. Nunca fui a Cuba(ainda) mas ja vivi um sistema de saúde fantastico como este quando morei na frança durante um ano....confesso que as vezes sinto saudades... As diferenças sociais deste país são gritantes e revoltantes. Infelizmente a grande maioria da população sequer imagina que há sim a possibilidade de vivermos com dignidade. Se aqueles detentores do poder abrissem mão de sua arrogância e ganância, se a população votasse conscientemente, baseados em suas histórias de vida e necessidades, se fossem às ruas clamarem por seus direitos! O nosso sistema de saúde tem tudo pra dar certo, quando seguimos o principio da universalidade é isso que esperamos. É preciso ter um pouco de paciência e não desacreditar neste sistema, bem como, continuar acreditando na humanização do nosso povo!
    Parebéns novamente,
    Vanessa Rodrigues.

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